quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Sarapatel em Fevereiro, será pecado?


Pois... Eu sei...é um prato que se come só no Domingo de Páscoa, mas o que fazer? Estive durante 35 anos à espera dessa altura para o comer ( talvez não tantos, em miúda o aspecto repugnava-me e não havia quem me fizesse engolir tal coisa) e agora que já sei fazer, graças à mãe do Paulo, volta que não volta lá vem o sarapatel.
Cá em casa adoramos e fazemos desta sopa ( que é disso que se trata) uma refeição completa.
Adiante!
A dificuldade deste prato é nula, o pior é encontrar os ingredientes, mas como é coisa tradicional cá da terra, ainda se vão tendo uns "contactos" que nos vendem as "fressuras". No talho só por encomenda.
Estas que aqui vêem foram-nos oferecidas pelos tios Fatinha e Vitinho ( quem os quer bons arranja-os) tal como o resto do borrego e assim ainda nos soube melhor.
Ok! Vamos começar!
Muna-se de uma faca bem afiada e uma grande dose de paciência, as carnes têm que ser cortadas bem miudinhas, quadradinhos do tamanho de uma unha (das pequenas, lol) é o ideal.
Assim, migam-se o fígado, os pulmões e o coração, estas são as fressuras normais, mas também pode e deve acrescentar a língua e os rins do animal, para enriquecer ainda mais esta sopa é costume juntar-se uma parte das abas do borrego cortada em pedaços pequenos e um ou dois molhinhos (rolinhos das tripas).
À parte coza o sangue dentro de um saco de plástico, numa panela com água, durante mais ou menos 20 minutos. Se comprar a carne no talho o sangue já vem cozido e costuma ser de porco o que não afecta grandemente o resultado final.
Na panela de pressão ponha:
_ azeite
_ cebola picada
_ alho picado (1 dente)
_ salsa
_ hortelã ( 1 ramo generoso)
_colorau (pouco)
_ cravinho (2 cabeças)
_ sal
Eu ponho também uma colher de sobremesa de cominhos mas não é tradicional.
Assim que a cebola ficar translúcida acrescenta-se a carne, refoga-se ligeiramente, cobre-se com água e coze à pressão durante uns 20 minutos.
Passado esse tempo abra a panela e junte ao resto o sangue já desfeito (com as mãos ou com um garfo) acrescente água se necessário, não se esqueça que é para comer com "sopas" e rectifique os temperos. Deixe ferver mais 10 minutos, finalmente a 2 minutos de desligar o lume deite na panela um golpe de vinagre.
Serve-se sobre fatias finas de pão duro alentejano e folhas de hortelã.
Quem gosta, eu gosto, acompanha com rodelas de laranja.

Agora à moda dos Óscares:
Agradeço à D. Maria Alice por ser tão boa professora, aos Titios por serem tão generosos, ao Paulo por ser tão guloso, à Ana porque não gosta, a quem aqui vem por me aturar, aos meus familiares e amigos por qualquer coisinha e etc, etc, etc.

3 comentários:

  1. Pecado? Claro que não! eu já comi no Carnaval :-)
    Beijos

    Ana Isabel Gândara

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  2. Confesso que é um prato k ñ gosto. Sinto a mesma apetência que a autora quando jovem.
    Mas, há sempre um mas...
    Uma escrita tão jovial, uma fluência encantadora, uma "visível" cumplicidade, a forma e a arte ( k penso serem capaz de transformar um simples pão com azeitonas num régio banquete ) fazem tentar ...
    Será k conseguirei ??????
    Victor Sengo

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