sexta-feira, 31 de julho de 2009

Sopa de Beldroegas


Já há algum tempo que andava para fazer esta sopa, não comia desde miúda e se bem me lembro nem sequer gostava muito do sabor, mas como eu era uma chata não só para comer como para tudo, resolvi experimentar, principalmente depois de ver um monte de beldroegas que estava a nascer à frente da minha casa.
Pois é, os problemas começaram logo aí... o Paulo, pouco confiante nas minhas artes de conhecedora herbícola, torceu o nariz e perguntou se eu tinha a certeza que "aquilo" era comestível, depois de lhe garantir que "aquilo" eram mesmo beldroegas e que sim, que se comiam, ainda ripostou que "aquilo" devia ter veneno daquele que se põe nas ervas para secarem, que se calhar os cães fizeram ali xixi, que nunca tinha provado tal coisa e blá blá blá...
Deixei de o ouvir, mas desconfio que ele jurou a si mesmo que não ia ser o primeiro a comer a sopa.
Com esperança que resultasse lavei e voltei a lavar e lavei mais uma vez as beldroegas, depois fui tirando as folhas que me pareciam mais tenras ( aviso desde já que dá um trabalhão) e quando me pareceu que já tinha uma quantidade razoável, voltei a lavar as beldroegas desta vez com água bem quente. Pu-las no cesto dos vegetais e virei-me para outro lado.
Coloquei numa panela 5 ou 6 batatas, 1 nabo, 1 chuchu, 1 cebola e 1 tomate bem maduro sem pele, todos de tamanho médio, acrescentei sal e azeite, água suficiente para tapar os ingredientes, o cesto com as beldroegas e deixei ferver sem tapar até as batatas estarem cozidas.
Depois é só desfazer a base da sopa (batatas, nabo, etc.) com a varinha mágica, acrescentar as beldroegas e já está.
Cá em casa habitualmente só comemos sopa ao almoço, exceptuando a Ana que come sempre quer queira quer não. Esta quantidade deu para 2 dias.
O costume é fazer esta sopa com as batatas cortadas ás rodelas e as beldroegas a boiar no caldo aguado.
Tal como quem conta um conto acrescenta um ponto, quem cozinha muda o que lhe apetece, a mim soube-me muito bem assim e melhor ainda o Paulo comeu (claro que esperou umas horitas a ver que efeito "aquilo" me fazia), chorou por mais e ainda disse que era a melhor sopa que eu alguma vez tinha feito.
Ora toma que já almoçaste!

Le Chef Paolo


Como já devem ter calculado, eu sou o seguidor! Ou pelo menos tento sê-lo.
Confesso que a minha noção de cozinha há 5/6 anos atrás se resumia a 3 pontos: 1 – suprimir de uma necessidade básica; 2 – perca de tempo e enfadonha; 3 – congelados 4SALTI (Nhamy! gostava tanto das ervilhas com gambas).
De então para cá muita coisa mudou… uffffa., pelo menos neste caso foi para melhor.
Hoje encaro as horas passadas na cozinha com a Goya(a minha musa) como momentos de prazer, de gargalhadas, cheiros, sabores e de desafios constantes. Por entre um cigarro e uma cerveja (ui se aparece para aqui algum ‘Chef’, desanca-me lol), faz-se um refogado, acrescenta-se uma pitada de sal, trocam-se ideias e tudo com enorme prazer e gozo.
Por tudo isto espero que este espaço seja divertido, e que juntos possamos partilhar experiências e sobretudo… curtir, curti e curtir!
Bom Apetite.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

No inicio era o caos...


Segundo me contam e do que eu me lembro a minha mãe era uma cozinheira de mão cheia. Morreu tinha eu 16 anos e embora já ajudasse na cozinha, não sabia fazer nada que se pudesse mastigar.
Foi o meu pai, com a sua enorme paciência e pouco jeito para estas coisas dos comeres (exceptuando alguns petiscos) que me iniciou no que hoje considero uma arte (não sendo eu a artista), ainda me lembro do seu desespero quando um dia decidi que queria fazer sopa de feijão e como não percebia nada do que estava a fazer, mas ao mesmo tempo sem querer dar parte de fraca, pus os feijões de molho de véspera e no dia seguinte peguei na panela de pressão com água onde coloquei os ditos feijões e lume com eles.
Passou uma hora, duas, e eu na dúvida, será que já está cozido? Mas como era na panela de pressão tinha medo de a abrir e estragar o cozinhado… a panela só foi aberta quando se começou a sentir um intenso cheiro a esturro e já não saía qualquer tipo de vapor… O meu pai muito desolado olhando para o interior da panela com o seu conteúdo mais que carbonizado soltou um: “Tamos lixados”.
Aquilo fez-me espécie. A Panela foi para o lixo e eu percebi que tinha mesmo que calcorrear sinuosos caminhos até aprender a fazer algo que se pudesse comer sem risco de intoxicação.
Fui perguntando, consultando, lendo e experimentando, sempre com o pensamento que “Quem sai aos seus não é de Genebra” eu que não sei muito bem de onde sou, mas que de certeza sou filha da minha mãe, coisa dita e vista não só pelas semelhanças físicas como pelo feitiozinho jeitoso que dela herdei, jurei a mim mesma que havia de cozinhar como ela (oh! inocência da juventude), evidentemente nunca o consegui.
Mas comecei a ver a comida como uma alquimia, juntar os ingredientes, transformar coisas intragáveis em deliciosos petiscos, lamber os dedos e pensar que foi magia…
Insistente e curiosa fui fazendo, fui comendo, fui apurando e hoje embora esteja a anos luz da comida da minha infância sei que posso convidar amigos para jantar e que vão sair de lá satisfeitos ( nem que seja só com as bebidas).
“Fazer o comer” tornou-se para mim, não só uma actividade do dia a dia, mas também um prazer. Prazer de provar e gostar do que faço, prazer de ver os que estão à minha volta satisfeitos, prazer de ouvir um “está mesmo bom”.
Alguns dos meus cozinhados são memórias do que via a minha mãe fazer, outros são ideias que me ficam de programas que vejo ou de restaurantes onde fui.
Continuo e experimentar, nem sempre com sucesso, e agora tenho um seguidor que me acompanha nestes caminhos já não tão sinuosos da comida, que embora inseguro lá vai dando os seus passos ao meu lado.
Gostava de poder partilhar os meus sabores e se alguém, algum dia, quem sabe a minha filha, fizer uma das minhas receitas já me dou por satisfeita. Daí a ideia deste blog.
Que lhe faça bom proveito.